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Novena à Nossa Senhora do Desterro


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Novena à Nossa Senhora do Desterro

(De 8 a 16 de fevereiro)



Oração para todos os dias:


Ó Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Nosso Senhor JESUS CRISTO, Salvador do Mundo, Rainha do Céu e da Terra, advogada dos pecadores, auxiliadora dos cristãos, protetora dos pobres, consoladora dos tristes, amparo dos órfãos e viúvas, alívio das almas penantes. Socorro dos aflitos, desterradora das indigências, das calamidades, dos inimigos corporais e espirituais, da morte cruel, dos tormentos eternos, de todo bicho e animal peçonhentos, dos maus pensamentos, dos sonhos pavorosos, das cenas terríveis e visões espantosas, do rigor do dia do juízo, das pragas, incêndios, desastres, bruxarias, maldições, ladrões, assaltantes e assassinos. Minha amada Mãe, eu prostrado agora aos Vossos pés, com piedosíssimas lágrimas, cheio de arrependimento das minhas pesadas culpas, por Vosso intermédio imploro perdão a Deus infinitamente bom. Rogai, ao Vosso Divino Filho Jesus, por nossas famílias, para que Ele desterre de nossas vidas todos estes males, nos dê perdão de nossos pecados e nos enriqueça de Sua divina graça e misericórdia. Cobri-nos com o Vosso manto maternal, ó divina estrela dos montes! Desterrai de nós todos os males e maldições. Afugentai de nós a peste e os desassossegos. Possamos, por Vosso intermédio, obter de DEUS a cura de todas as doenças, encontrar as portas do Céu abertas e Convosco ser felizes por toda a eternidade. Amém.


7 Pai Nossos... 7 Ave Marias... e 1 Credo... ao Sagrado Coração de Jesus pelas 7 dores de Maria Santíssima.





Meditação - Primeiro dia


Obediência perfeitíssima dos Santos na partida para o Seu Desterro



Pondera, como avisando em sonho o Anjo a São José que se levantasse e tomasse o Menino e com sua Mãe fugisse para o Egito para salvar a vida do Infante Jesus, a quem Herodes procurava matar. Logo, sem mais demora (que a não sabe ter o fiel e perfeito obediente), pouco depois da meia-noite se puseram a caminho os Santíssimos Peregrinos JESUS, MARIA e JOSÉ. Considera, alma minha, nestas Pessoas, as maiores do mundo, a obediência tão pronta e resignada; pois sem queixa, nem reparo, puseram em execução o que se lhes mandava; e isto sendo tão custoso fazer: uma jornada pela meia-noite sem prevenção e nem abrigo. Ah! E que representa esta que fortemente argui a falta da minha obediência, que, sempre para me eximir do que me mandam, acho pretextos e escusas; e se alguma vez obedeço, é talvez murmurando de quem me manda; ou, quando menos, com repugnância da vontade e sem sujeição do juízo! Ó Santíssimos Peregrinos, fazei que eu daqui em diante obedeça a todos os meus Superiores, ainda nas coisas mais custosas, porque todas elas me serão suaves, tendo a meu favor o vosso Patrocínio que especialmente imploro para alcançar esta virtude da obediência tão necessária para não errar o caminho do Céu e da virtude; e já que os primeiros passos que dais neste Desterro são pela obediência, seja esta a primeira lição. Que neste Desterro de Vós aprenda para emendar os errados passos que, até agora, por falta de obediência às Leis Divinas e humanas, dei na minha vida. Que para o futuro há de ser outra, ajudado com a Vossa intercessão, que outra vez peço: para que, seguindo o caminho que levais, venha a conseguir o feliz termo que desejo da minha peregrinação. Amém.





Meditação - Segundo dia


Desapego do Mundo e confiança em Deus que tiveram os Santos Peregrinos no Seu Desterro



Pondera quão pobres e quão desprovidos do necessário fizeram a sua jornada os Santíssimos Peregrinos JESUS, MARIA e JOSÉ, sendo todos os Seus aparatos, com que para tão larga jornada dispôs esta Sagrada Família, uma tosca e pequena caixa em que se guardavam as pobres mantilhas e panos do Menino Deus. Ó assombro! Os Senhores de toda a terra, com tão pouco de toda a terra, se contentam: e para mim, que de nada sou senhor, nem tudo da terra é bastante para satisfação do meu desejo, da minha ambição? Mas que muito, se sou todo terreno, e estes Santos todos do Céu; e a quem é do Céu, tudo o que é da terra descontenta, e só do que não pode escutar, se aproveita; porque do Céu, donde são, é que esperam todo o socorro, como esperavam estes Santos Peregrinos que, movendo-se com o corpo na terra, fazendo nela a sua Peregrinação, a alma e o coração não se moviam, porque sempre os tinham fixos e empregados no Céu donde lhes veio o auxílio neste total desamparo, usando o Senhor da especial Providência que tem com os que Nele põem todas as suas esperanças, pois mandou a dez mil Anjos, que em forma humana revestidos de gentileza, de luz e de Majestade, servissem de guarda Real àqueles desconhecidos Príncipes que desterrados com tanta pobreza e expostos a tantos perigos, caminhavam; os quais lhes serviam, com as suas presenças, de alívio na jornada, de consolação nos trabalhos, de reparo nas inclemências do tempo, de ministros para o sustento e de aposentos para o descanso. Oh! Confunde-te, alma minha, à vista de tudo isto na consideração do que tens perdido; pois por quereres ganhar os bens da terra, tens perdido os bens do Céu, o socorro, os auxílios e os efeitos da especial Providência de Deus; e se não tens perdido do Céu a esperança, ao menos está em ti mui vacilante. E que maior miséria e cegueira do que perder pelos bens da terra os bens do Céu?

Ó Santíssimos Peregrinos, ricos e pobres, porque, pobres dos bens da terra, tão ricos fostes dos bens do Céu; desses como necessitado, e peregrino na terra vos peço uma esmola, e seja esta a dar-me luz para conhecer os erros, e arrepender-me dos pecados, que até agora fiz, procurando com tanta ânsia os bens terrenos, e esquecendo-me totalmente dos eternos; e já que caminhais para o Egito, de cujos moradores se diz, que nunca põem os olhos no Céu, pois todas as suas esperanças põem na terra, assim como os ide tirar deste engano, também a mim dele me tirai, para que de hoje em diante, despido e desembaraçado de todos os afetos terrenos e mundanos, só busque a Vós, e em Vós todo o bem, não só na terra, mas no Céu.




Meditação - Terceiro dia


Maravilhas que obraram os Santos Peregrinos no caminho para os Seus desterros e Suas ardentíssimas caridades



Pondera, como chegando estes Santíssimos Peregrinos à Cidade de Gaza, nela se detiveram dois dias, nos quais Maria Santíssima se ocupou em cuidar de muitos enfermos; e sendo tão portentosos os efeitos que obrava nos corpos, ainda o eram mais e maiores os que causava nas almas das pessoas com quem a Senhora e São José tratavam, porque Suas Divinas palavras, como saídas daqueles abrasados corações, eram incendidas faíscas que inflamavam os espíritos de todos, fazendo-os romper em sentidos suspiros de arrependimento de seus pecados, em ardentes atos de amor a Deus, em repetidos louvores ao Criador e Reparador de tudo que tinham presente e não conheciam. Considera, alma minha, como estes Santíssimos Peregrinos não perdiam tempo, nem ocasião, em que pudessem aproveitar aos próximos, pois ainda fazendo jornada, em que pela maior parte se distraem os caminhantes, estes não só iam recolhidos dentro de Deus, mas para Deus queriam trazer a todos com quem tratavam. Trata muito, ó alma, com estes Santíssimos Peregrinos, porque da sua comunicação hás de tirar o ordenar bem os caminhos da tua vida, e hás de tirar o fervor da caridade com que não só te aproveites a ti, mas também converta a outros com as tuas palavras e com teu exemplo. Mas, que poderei fazer, Santíssimos Peregrinos, se Vós me não ajudardes? Confesso que bem me persuadis com o vosso exemplo, porém como eu sou tão rebelde para todo o bem, se me não ajudardes com muitos auxílios da Divina Graça, Vós ireis na vossa Peregrinação e eu ficarei de assento na minha tibieza, ou na região da morte do pecado; dai-me, pois, a mão, para que eu me levante e vá andando com mudança de vida, e mudança tal, que se conheça que fora da mão direita do Altíssimo, para que vos vá amar com aquela caridade que sempre dura e juntamente louvar com aqueles louvores que não tem fim.





Meditação - Quarto dia


Do que padeceram os Santos Peregrinos no caminho dos Seus desterros e Suas raras conformidades



Pondera, como deixando estes Santíssimos Peregrinos a Cidade de Gaza, por se desviarem do povoado, tomaram o caminho pelo Deserto de Berzabé dilatado por espaço de sessenta léguas. Muito foi o que os Santos padeceram neste deserto. Era tempo de inverno, e como não tinham onde se recolher, era-lhes preciso passar as noites ao sereno sem algum abrigo mais, que a Capa de São José, dando a isto lugar os dez mil anjos que acompanhavam a estes Santíssimos Peregrinos, porque os Anjos de Deus, ainda que confortem, nem sempre aliviam das aflições, para que se não perca a ocasião do merecimento. Foi grande o que os Santos tiveram nesta tribulação; porque, além da moléstia da jornada, intemperança do ar, rigor do frio, sereno da noite, era tanta a falta do sustento que chegou a ser extrema a sua necessidade, havendo dia em que, o gastando todo em caminhar, não tiveram nada para comer, e sobre isto se levantou um grande temporal de vento e águas que sumamente afligiam a Senhora e São José, não tanto pela moléstia própria, mas por virem sentir o Menino Deus que, para se mostrar humano, chorava ternamente e tremia de frio. Nesta tormenta desfeita de trabalho, formada dos Elementos entre si encontrados e só unidos para com mais força obrarem aos Santos a matéria do merecimento, caminhavam eles com tanta paz e serenidade de animo e com tanta conformidade com a vontade de Deus, que a harmonia que fazia assentos nos seus corações, soava em doces cânticos e divinos louvores entoados ao Seu Criador, oferecendo-lhe juntamente por amor dos homens todos aqueles trabalhos que padeciam. À vista destes e daquela conformidade, considera, alma minha, os teus trabalhos, e a tua conformidade com a Divina Vontade.

Em ti, a falta de conformidade faz que os trabalhos te pareçam grandes; e nestes Santos, como as Suas conformidades eram tão raras e excelentes, ainda os grandes trabalhos lhes pareciam tão ligeiros e suaves, que os levavam com a boca cheia de louvores de Deus e o coração de jubilo. Ah! Santíssimos Peregrinos, já conheço que não é o que faz pesados os trabalhos desta vida, a gravidade deles, mas sim a falta de conformidade com a Divina vontade; porque se eu estivera unido com Deus, que tudo pode, nada pesa. Ó Soberanos Senhores Jesus, Maria e José, que tão unidas tínheis as vossas vontades com a de Deus, por isso com tanta conformidade sofrestes trabalhos tão sensíveis no vosso Desterro, por estes e por aqueles, vos peço me alcanceis de Deus uma íntima união com a sua Santíssima vontade e também com a vossa, para que daqui em diante leve com inalterável paciência e perfeita conformidade todos os trabalhos desta vida, os quais ofereço, já juntos com os vossos, ao Eterno Pai, para que Ele pelo amor que vos tem, e em atenção aos vossos merecimentos, não atenda ao quanto o tenho ofendido, por não aceitar de boa vontade os trabalhos que sua poderosa mão me tem enviado; e me de graça para que eu saiba aproveitar de tanto bem, qual é o padecer por seu amor todas as penas deste mundo, pelas quais se merecem os gozos sempiternos que não tem fim, e se escapa às penas do outro mundo, que são eternas.





Meditação - Quinto dia


Maravilhoso modo com que Deus acudiu aos Santíssimos Peregrinos no deserto e profundíssima humildade com que receberam este benefício



Pondera, como vendo o Senhor o total desamparo destes Santíssimos Peregrinos, que pelo Deserto caminhavam faltos de todo o necessário, havendo já dado lugar ao merecimento e querendo como Sábio e Prudente em todas as disposições da sua Soberana Providência moderar as penas com as consolações, por mãos dos Anjos mandou à Senhora e São José pão alvíssimo e saborosíssimo; belas e sazonadas frutas e um licor mais suave que o fabuloso néctar, que não só refazia as forças do corpo, mas confortava o espirito; e para reparo das inclemências do tempo se fabricou por mãos dos Anjos um pavilhão formado de luminoso ar em forma de globo, guarnecido de resplendores, e dentro desta Celeste redoma se recolheram aquelas animadas Relíquias, dignas de maior veneração, ficando assim defendidas da injúria de todos os Elementos. Receberam os Santíssimos Peregrinos este favor do Céu com profundíssima humildade, reconhecendo no intimo de seus corações não serem merecedores de tão grande beneficio. Que assim aceitem de Deus as mercês, os que tem verdadeira humildade, atribuindo tudo à bondade do Senhor que lhas concede. Oh! Quão bom é Deus para aqueles que são de coração reto, pois no meio dos maiores trabalhos, então se mostra com eles mais benigno! Oh! Se eu assentar bem nesta verdade nunca desmaiaria a minha confiança em tão bom Senhor que, ainda quando parece nos deixar, então mais nos ampara, dando-nos o conforto na mesma tribulação!

Aumentai, Santíssimos Peregrinos, por vossa intercessão, a minha confiança, para que eu saiba fiar de Deus todo o meu remédio nas tribulações e adversidades, e alcançai-me também uma profunda humildade, para com esta, não só receber as humilhações de Deus, mas muito mais para receber da mesma mão os benefícios, pois conheço em mim inclinação para mais atribuir a mim os benefícios do que os castigos, quando só destes, e não daqueles sou merecedor; e tudo isto nasce da falta de conhecimento da minha miséria e indignidade, que faz reputar-me para os castigos inocente e para mercês benemérito. Para remediar esta minha cegueira, ignorância e miséria, de todo o coração Vos torno a pedir, Santíssimos Peregrinos, humildade de coração, com que fique mais humilhado quando de Deus for mais favorecido, atribuindo a tão bom Senhor toda a honra e toda a glória, como de direito se Lhe deve, e Vós lha destes, quando da Sua Divina mão recebestes tão grande beneficio, de que eu me gozo como tão amante de todo o vosso bem.




Meditação - Sexto dia


Portentoso modo com que o Senhor recreou os Santíssimos Peregrinos no caminho e como eles correspondiam agradecidos



Pondera, como Deus, nosso Senhor, cuja natureza é Bondade, não só acode aos seus nas necessidades, mas ainda nesta vida os recreia em recompensa dos seus trabalhos. Assim o executou com os Santíssimos Peregrinos Jesus, Maria e José, que tendo padecido tanto nesta jornada, não só lhes deu remédio, como já vimos na ponderação antecedente, mas como agora veremos, com superabundância os consolou; porque para alívio da jornada, dispôs uma Capela de Música de alados Cantores, vindo das montanhas bando de Aves que recreavam não menos a vista, que os ouvidos: a vista com a diversa e agradável formosura do colorido e matizado de suas penas; os ouvidos com o suave de seu canto e sonora melodia dos gorjeios. E como se fossem racionais, que quisessem manifestar a sua alegria, davam faltos de prazer, pondo-se já nos ombros, já nas mãos e já no regaço da Senhora, que as admitia com brandura e lhes mandava que reconhecessem a seu Criador, que presente estava, e lhe entoassem Cânticos de louvor em sinal de agradecimento de as haver criado tão formosas, ao que elas prontamente obedeciam; e correspondendo também os Anjos com São José, faziam todos uma harmonia mais espiritual que sensível, de admirável consonância para o terníssimo Menino. Deste modo, prosseguiram a sua jornada até entrarem no Egito. Considera, alma minha, quão agradecidos são a Deus os corações humildes, que não só por si gratificam os benefícios que o Senhor lhes faz, mas querem que todos deem por eles louvores a Deus, ainda as mesmas criaturas que carecem de razão; porque reconhecem que de todos os louvores e dos louvores de todos é Deus merecedor, pelo que é em si e pelo bem que faz às criaturas, que tudo vem da sua liberalíssima mão.

Ai de mim, que ingrato tenho sido a Deus, e isto tendo sido de Deus tão favorecido com tantos benefícios e mercês que todos os instantes estou recebendo da sua Benignidade e Misericórdia! Mas já, Senhor, que até agora por esquecido e descuidado fui tão ingrato, que vos não dei os louvores devidos, agora em gratificação dos benefícios que me tendes feito, desejo ser todo línguas para vos louvar, e todo corações para vos amar; para o que convido a todas as criaturas do Céu e da terra, para comigo magnificarem e exaltarem o Vosso Santíssimo Nome, de sorte que posso, e Vós quereis que eu faça, dando-Vos todos os louvores que se vos tem dado e hão de dar por toda a Eternidade. E vós, Santíssimos Peregrinos, ajuntai os meus louvores com os vossos, para que com os vossos sejam também aceitos e agradáveis os meus, e possam servir de recompensa à minha ingratidão, que confesso ter sido grande, pois correspondi ofendendo a Deus com minhas graves e enormes culpas, das quais estou arrependido, e com resolução de emenda, fiado na Graça de Deus e na vossa intercessão.




Meditação - Sétimo dia


Entrando os Santíssimos Peregrinos no Egito, arruinaram-se os Ídolos e

fugiram os demônios


Pondera, como continuando Jesus, Maria e José, a sua jornada, entre trabalhos da terra e consolações do Céu (que deste modo costuma o Senhor ordenar a vida dos seus escolhidos) chegaram ao Egito. É suposto que a sua determinação era fazerem assento na cidade de Heliópolis, que se interpreta Cidade do Sol. Contudo, para serem mais copiosos os influxos daqueles Soberanos Astros, e mais dilatada a esfera de suas luzes, deram volta primeiro por outras cidades, nas quais, assim como nascendo a luz se desterram as trevas, assim ao entrarem a Estrela D'Alva, José, a formosa Aurora Maria, e o Sol da Justiça Jesus, se arruinavam os Templos, caiam os ídolos e fugiam os demônios. Eram os egípcios totalmente dados à superstição e culto dos falsos deuses, de sorte que em uma só cidade adoravam trezentos e cinquenta e cinco ídolos, ocupados de outros tantos demônios, que davam suas respostas quando os consultavam, como a Oráculos. Porém, quando nela entraram, os Santíssimos Peregrinos, assim como nas demais cidades, ficaram logo mudos, assolados e destruídos, sem se ouvir jamais a voz do inferno e do demônio em todos os sete anos que os Santos naquela região habitaram. Considera, alma, o júbilo, consolação e alegria que isto causou nos puríssimos Corações da Senhora e São José, vendo que o Menino Deus, já de tão poucos dias nascido, principiava a destruir o Reino do Inferno e domínio de Satanás, convertendo aquela cova de serpentes em ameno Paraiso de odoríferas flores, cujo bom cheiro se espalhou depois por todo o mundo em admiráveis exemplos de Santidade heroica, com que resplandeceram tantos varões ilustres, que povoaram aquela região.

Oh! E como me não admiro da minha dureza e obstinação, pois, conhecendo por fé e reverenciando por sagrado culto a estes Santíssimos Peregrinos, ainda não derrubei por terra, ainda não lancei do meu coração os ídolos de tantos vícios, a quem adora a minha cegueira. Oh! Se me resolvera a cortar de uma vez por todas as minhas más inclinações, e pela raiz de todas elas; o amor-próprio, que assim me tem enfurecido o juízo e enfraquecido a vontade para obrar bem; extirpar os vícios, reprimir as paixões, e fazer a diligência que devia, para alcançar as virtudes de que estou tão falto, como de bons exemplos para edificação do próximo! Porém, Amabilíssimos Peregrinos, em tudo isto me podeis valer, assim como valestes aos egípcios: dai-me luz tão forte e eficaz, que sirva não só para afugentar de mim as trevas e cegueira do meu juízo, mas também de conforto ao meu coração, para que com todo o valor e resolução corte pela vontade própria, satisfação de meus apetites e paixões desordenadas, de sorte que não predomine mais em mim o ídolo do pecado e império de Satanás, a quem detesto e abomino. Quero limpar a casa de minha alma, para que nela façais habitação permanente, e o pagamento desta hospedagem sejam as virtudes que costumais conceder a quem vos dá pousada. Dai-me, pois, Celestiais Peregrinos, um desapego do mundo, uma humildade profunda, uma paciência continua; dai-me uma fé viva, esperança firme, caridade ardente e uma cordial devoção vossa, porque se a tiver, venerando-vos com adoração de espírito e verdade, por este meio alcançarei as demais virtudes, com que darei aos próximos bom exemplo, e para mim tirarei frutos de vida eterna.



Queda dos ídolos ao entrar a Sagrada Família no Egito
Queda dos ídolos ao entrar a Sagrada Família no Egito

Meditação - Oitavo dia


Extrema pobreza dos Santíssimos Peregrinos no Egito e do que fizeram para se sustentar



Pondera, como fazendo já assento os Santíssimos Peregrinos em Heliópolis, logo faltou-lhes o milagroso sustento com que Deus, por meio dos Anjos, os sustentava enquanto caminhavam pelo deserto, assim como faltou o Maná aos filhos de Israel ao tomarem posse da terra da Promissão. E, como sem este socorro do Céu a pobreza era suma na terra, e terra estranha, saía São José, para remediá-la, a pedir esmola de porta em porta. Quem com tal exemplo se poderá queixar da sua fortuna, por mais infeliz que lhe pareça? E quem, à vista de um tão ilustre pobre, terá por desprezo o remediar a sua necessidade por este meio? Viviam os Celestiais Peregrinos recolhidos em uma casa que alugaram, tão limitada que não tinha mais que três aposentos, um dos quais se consagrou em Templo em que assistia o Infante Jesus e sua puríssima Mãe; outro se reservou para São José e o terceiro para a oficina em que havia de trabalhar o mesmo Santo. Porém, como principalmente ao princípio, tivesse o Santo pouco em que exercitar o seu ofício de carpinteiro, se lhe fazia preciso o mendigar, ainda que com pouco fruto, porque mal podia haver esmolas onde faltava a caridade. Nesta condição, acudiu Maria Santíssima, que querendo em parte aliviar a São José do cuidado de sustentar aquela Sagrada Família, e por meio de umas piedosas mulheres que frequentemente a visitavam, afeiçoadas da sua modéstia e atraídas da sua virtude, procurou costura e lavores de mãos, em que pudesse lucrar alguma coisa. E como tudo o que a Senhora fazia saia tão perfeito, como obra de tais mãos, nunca lhe faltava em que trabalhar, e assim remediava a pobreza de sua casa e também a dos necessitados que à Senhora recorriam. Quão rica é a pobreza quando ela se ajunta à abundância da caridade!

Considera, alma, quão preciosa é a pobreza de espírito e quão agradável a Deus é esta virtude, pois para esta ter exercício, suspende um milagre do Céu, ministrado pelos Anjos. Considera, quão prudente andou esta mulher forte, Maria Santíssima, que com a pobreza ajuntou o conselho da obra de suas mãos para dar de comer a seus domésticos e para os vestir, e não só vestir e sustentar os domésticos, mas ainda socorrer os estranhos com socorro dobrado, atraindo e levando todos para Deus com a suave, mas veemente eficácia das suas palavras, e o exterior do corpo cobrindo a sua nudez e dando-Lhe alimento para a vida, verificando-se neste Desterro do Senhor e da Senhora o que o pai de ambos, Davi, tinha dito, que ajuntou um só ser, o ser de pobre e o ser de rico. Pobre estava a Senhora neste desterro pela pobreza voluntária, e tão voluntária, que deste mundo sendo seu, nada queria; mas juntamente era rica pela misericórdia tão compassiva que usava com os pobres, que sendo pobres, também ficavam juntamente ricos pelos tesouros de Graça que estes Santos, com tanta abundância, comunicavam-lhes. Santíssimos Peregrinos, já que a vossa piedade e misericórdia é tão geral, que não só se comunica aos domésticos, mas também se estende aos estranhos, humildemente vos rogo: acudais a minha necessidade; que por isso mesmo, que como filho pródigo, não sou doméstico; porque deixei pelas minhas culpas, a vossa casa, para ir habitar apartado de Vós na região do pecado. Como estranho, sou mais indigente, pois pereço de fome; e assim esta, como grande, está pedindo uma grande esmola de vossa caridade, pois a caridade, para ser pura, como é a vossa, não há de atender tanto ao merecimento da pessoa, como à grandeza da necessidade que se padece.

Alimentai-me, pois, com a substância da Graça; vesti-me com os vestidos dobrados, o vestido interior do bom exemplo nas ações da minha vida. Tudo isto terei, se à vossa imitação me concederdes a pobreza de espírito verdadeira, com que do mundo não queira coisa alguma, porque desapegado o coração das criaturas, irei não só correndo, mas fugindo convosco em seguimento do Criador, para d'Ele alcançar a sua Graça, imitar as suas virtudes e seguir o seu exemplo, de sorte que chegue a possuí-lo e a compreendê-lo como prêmio eterno, que é dos que do mundo triunfam e alcançam gloriosa vitória.




Meditação - Nono dia


Virtudes, milagres e obras singulares que os Santíssimos Peregrinos exerceram nos sete anos que ficaram no Egito


Pondera, como se detendo estes inocentes fugitivos sete anos no Egito, não esteve ociosa a sua caridade. Não cessa o fogo de arder e nem sabe fazer pausas a Graça do Espírito Santo onde assiste, antes sempre busca novos meios de aproveitar. E como estes Santíssimos Peregrinos eram Templos vivos do Divino Espírito, ainda que estivessem de assento em uma só cidade, nem por isso deixavam de influir com a sua fogosa atividade em toda a região do Egito, despendendo luzes e benefícios a todos os seus habitantes, sendo inumeráveis aqueles a quem com a luz da Fé abriram os olhos para verem os erros em que viviam, e a quem com o calor da sua caridade, juntamente enterneceram os corações para chorarem os mesmos erros que chegaram a conhecer, e com os corações contritos e os entendimentos alumiados, sujeitavam-se rendidos aos saudáveis ditames com que a Senhora e São José os guiavam para a mais alta perfeição, a qual lançou tão profundas raízes, que depois brotou em tão heroicos exemplos que ao mundo ilustraram tanto e tão Santos Eremitas e Anacoretas que no Egito floresceram. E para melhor persuadirem as mesmas verdades Católicas que lhes ensinavam, as confirmavam com admiráveis prodígios e estupendos milagres, dando vista aos cegos, ouvidos aos surdos, língua aos mudos, pés e mãos aos aleijados, e saúde a todos os enfermos.

E para que esta fosse mais universal, e tivesse mais a quem se multiplicar, visitavam muitas vezes, estes inculpáveis Desterrados, aos hospitais, aonde ao alívio dos corpos ajuntavam a consolação do espírito, livrando a uns da doença e alentando a outros, para fazerem meritórios com a paciência os seus trabalhos, distribuindo a cada um já a saúde, já o conforto, conforme com a luz do Céu conheciam lhes era mais conveniente, ficando deste modo todos remediados. Em tão santos exercícios, obras de tanta piedade e misericórdia gastaram os Celestiais Peregrinos os sete anos que se demoraram no Egito, sem perder instante que não aproveitassem. Ó! Se eu à vista disto ao menos me confundisse, pois, vivendo peregrino no desterro deste mundo, vivo nele como se fosse a própria Pátria, como se aqui fosse a Cidade permanente, e não tivesse outra futura que devesse esperar, e outra Pátria eterna que devesse pretender! Mas não quero só, Santíssimos Peregrinos, confundir-me deste erro; também desejo que a esta confusão se siga a Graça de fazer obras tão Santas como as vossas; desejo justificar-me para Deus e para a eternidade; desejo na vida transitória proceder de sorte que consiga a permanente e perdurável. Assim será se vós, assim como me excitais com o Patrocínio, que sobre todos é o mais poderoso, fizerdes que como mais poderoso venha a ser o mais eficaz. E que pedireis Vós, ó Castíssimo José, a Maria Santíssima, que não faça esta Senhora, quando se dignou aceitar-vos por esposo? E que pedireis vós, ó Beatíssimo José e Maria, ao Divino Jesus, que, com efeito, vo-lo não conceda quando de vós, ó Puríssima Maria, quis receber o ser de homem, e de vós, ó Santíssimo José, a opinião de pai, e de ambos o amparo, consolação e companhia neste Desterro? Por todos estes títulos, e pelo que os três padeceram nesta Peregrinação e Desterro, peço-Vos que nas obras, palavras e caminhos da minha vida peregrina e desterrada me façais Santo, já que os três são Santos.

No Egito fizestes milagres tão portentosos, fazei em mim um dos maiores, que é a conversão de um pecador! Dai-me a luz da graça; dai-me o fogo do vosso amor; dai-me a compunção do coração; dai-me o seguimento dos vossos passos; dai-me afeição aos vossos trabalhos, para que Vos seguindo alcance a perfeição, e sem perder tempo, lucre a Eternidade perdurável. Amém.




*Retirado do livro: Escudo Admirável - 1803


LAUS DEO

 
 
 

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